domingo, 28 de junho de 2009

O MACHO QUE QUIS VIRAR GAY

A curiosidade do menino Beto (não é apelido é Beto Estêvão Magalhães no registro de nascimento) parecia com a de toda criança naquela idade. Ele era insistente em querer saber das coisas. Perguntava até que houvesse uma resposta satisfatória. Os seus pais eram muito pacientes e tentavam se fazer entender utilizando o vocabulário que julgavam adequado ao pequeno curioso. Mesmo assim, quando lhe disseram que botar o prego na tomada “fazia dodói”, Betinho não conseguiu entender o que havia de diferente naquele buraco na parede dos outros que estavam na cadeira, no armário etc., então quando ninguém estava vendo, quase colocou fogo na casa, só de curiosidade. Acho que foi nesse momento que ele viu que tinha que experimentar e não parou mais de submeter a provas tudo que ele não entendia, mesmo depois da surra que seu pai lhe deu.

Realizando muitas pesquisas bem e mal-sucedidas Beto foi crescendo e chegou à adolescência e sua curiosidade se voltou aos corpos femininos, se havia diferença entre eles, se existia uma cantada que conquistasse qualquer mulher e muitas outras dúvidas. Com isso, ele conheceu muitas mulheres: mais velhas, mais novas, virgens, prostitutas, se apaixonou algumas vezes, fez mulheres se apaixonarem perdidamente por ele, outras nem tanto, chegando mesmo a engravidar duas delas. Uma praticou o aborto com a cumplicidade dele. A outra deixou uma mensagem na sua secretária avisando que estava grávida, mas queria uma “produção independente”, agradeceu as ótimas noites e tardes que passaram juntos e nunca mais se viram.

Era chamado de “pegador” ou “garanhão” entre os amigos e conhecidos. Ele achava graça dos comentários de seus amigos, pois nunca quis ter nenhuma fama, só queria ter experiências com mulheres, nada mais. E ele gostava muito de todas as mulheres com quem tinha algum relacionamento, todas tinham um algo que lhe encantava, quase um “Dom Juan”. A diferença é que Dom Juan encontrava um encanto em cada mulher com quem se relacionava e Beto se relacionava com cada mulher que encontrava um encanto.

Beto tinha entre 25 e 26 anos, aproximadamente, quando a maioria de seus amigos começou a se casar, uns por extremo amor, outros por puro descuido na hora do sexo. Beto também estava sossegando com uma namorada só há seis meses. Mas em um dia, no intervalo do futebol semanal, Ubaldo, o goleiro do time dos casados que fez defesas espetaculares no jogo, deu uma bronca no seu filho:

— Que qué isso, moleque? Tá querendo virar mulherzinha, é? Filho meu não usa casaco na cintura, como se fosse saia. Filho meu tem que ser homem igual ao pai...

Beto estranhou:

— Por que falar assim com o menino? É uma criança...

— Pois é “de pequenino que se torce o pepino”. Meu filho não vai virar veado!

— Por que ele vai virar veado?

— Aquele casaco na cintura, parecendo uma saia...

— É só isso?

— Só isso?! Você acha pouco? Quando eu era pequeno, um menino que usava o casaco na cintura, cresceu junto comigo, agora é uma bichona.

— E você acha que foi o casaco na cintura que provocou a “bichice” do cara?

— O que mais poderia ser?

— Isso não tem lógica...

— Pra mim, usou casaco na cintura, é veado, e ponto final.

— Como a roupa pode influenciar o gosto sexual de uma pessoa?

— Não é só a roupa, mas o brinco também, o corte de cabelo, o sapato... Eu posso apostar que você nunca usou casaco na cintura.

— Não, que eu me lembre...

— É por isso que você é o maior garanhão da turma toda, Beto! Um cara que sempre usou roupa de macho, nunca usou brinco, não tem amigo veado, usa cabelo curto, joga futebol (esporte de macho!)...

O jogo recomeçou e aqueles argumentos não saíam da cabeça de Beto. Será que um cara que gosta de mulher, pode virar gay só por causa da roupa e do corte de cabelo que ele usa?

Depois do jogo, Beto amarrou o casaco na cintura e foi pra casa sem tomar o tradicional chopinnho com os amigos. Chegando em casa, ele já tinha um plano pra testar a teoria do Ubaldo, só faltava coragem para executar. Ele resolveu deixar o plano de lado.

Um dia ele percebeu que estava saindo de casaco amarrado na cintura, mas não se importou. Depois resolveu a marcar compromissos no horário do futebol, deixou o cabelo mais comprido. Quando deu por si, já tinha, inconscientemente, executado metade do seu plano, e resolveu executá-lo por completo: entrou numa farmácia e mandou furar a orelha, foi ao shopping e comprou um monte de camisas e calças justas, entrou num salão e fez um penteado fashion com mechas loiras e pediu dicas de moda ao cabeleireiro.

Alguns meses depois ele, realmente tinha mergulhado na sua pesquisa, estava de sobrancelha mais fina, e um visual realmente bem afeminado. Seus antigos amigos e namorada se afastaram, mas ele conquistou outros amigos e amigas que gostavam daquele visual andrógino. Ele, recebeu algumas cantadas de amigos gays, mas não se interessou. Chegou a dar um beijo em um desses amigos pra ver se gostava, mas sentiu nojo. Saiu com algumas mulheres que se interessaram por ele, uma delas bissexual, e, pra sua surpresa, gostou mais que das outras que eram chamadas “normais”. Beto virou o maior “pegador” de mulheres bissexuais da região. Tudo isso esperando que suas novas roupas, brinco e penteado o transformassem em um homem que gosta de homens...